sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ônibus 174

Por Ameliza Brum

Ao ganhar destaque dos veículos de comunicação o caso ônibus 174, chamou atenção de inúmeras esferas da mídia. Agumas delas foram o cinema e a televisão. O velho ditado popular que afirma “A vida imita a arte” inverteu seus substantivos e trouxe para telona do cinema o documentário do diretor José Padilha, "Ônibus 174". Na televisão o caso foi relembrado na novela de Aguinaldo Silva, "Duas Caras".

Acompanhe toda a história do assalto ao ônibus 174 - Relembre o caso

A versão para o cinema - Documentário "ônibus 174"

A versão para a televisão - Novela "Duas Caras"

Curiosidades sobre o caso


Relembre o Caso

Rio de Janeiro, dia 12 de junho de 2000, uma tentativa de assalto ao ônibus 174 (Central – Gávea) se tornou um dos episódios mais chocantes transmitidos ao vivo pelos veículos de comunicação brasileira. Ao tentar assaltar o ônibus da empresa Amigos Unidos, Sandro Barbosa do Nascimento, teve sua tentativa frustrada e acabou sem saída, preso dentro do veículo com onze reféns. Eram cerca de 14:20h, o bairro era o Jardim Botânico.

Sandro manteve sua primeira refém, Luciana Carvalho, sob a mira do revólver enquanto exigia que a moça dirigisse o ônibus. Neste momento o assaltante já mostrava sinais de extremo descontrole e fez o primeiro disparo. O tiro, dirigido ao vidro do ônibus, assustou reféns e policiais. O motivo: intimidar os fotógrafos e cinegrafistas que estavam no local.
Depois do primeiro disparo, Sandro liberou Willians de Moura, o único refém do sexo masculino.

Os Reféns

Aos poucos Sandro vai liberando os reféns. Damiana Nascimento Souza, foi a segunda refém a ser solta, ela já tinha sofrido dois derrames cerebrais e, naquele momento, passou mal novamente tendo um terceiro derrame. As horas passavam e todos começaram a temer pela vida dos nove reféns que ainda estavam no ônibus. Seguiu-se uma série de acontecimentos que fariam o assalto ao ônibus 174 entrar para a história como um dos fatos mais marcantes presenciados pelas autoridades e pelo povo brasileiro.


A tensão dentro e fora do veículo aumentava cada vez mais, Sandro começou a andar de um lado para o outro com um lençol na cabeça de Janaína, Segundo ela, o assaltante iria contar até cem, e quando chegasse ao fim da contagem, ele iria matá-la. Sandro contava os números de forma enrolada, pulando alguns, quando chegou ao número cem, fez a refém se abaixar e fingiu dar-lhe um tiro na cabeça. Depois disso, começou a fazer uma série de ameaças: "delegado, já morreu uma, vai morrer outra".

A Tragédia

Momentos de tensão e diálogo construíram o cenário entre as reféns e Sandro. Pouco antes das sete horas da noite, mais de quatro horas depois do início frustrado do assalto, Sandro decidiu sair do ônibus. Seu escudo foi a professora Geisa Firmo Gonçalves.

Na descida Sandro foi abordado por um policial do BOPE, Batalhão de Operações Especiais, que errou o tiro, acertando a refém. O disparo acertou a cabeça da professora, que acabou levando outros três tiros nas costas, disparados por Sandro. Com sua refém morta, Sandro foi imobilizado e colocado em uma viatura com outros policiais segurando-o. Enquanto isso, uma multidão corria para tentar linchá-lo. Sandro Barbosa do Nascimento foi morto, ali, dentro da viatura policial que o conduzia para delegacia. A causa da morte: asfixia.

Segundo a tia Julieta Rosa do Nascimento, a assistente social Yvone Bezerra e a mãe adotiva Dona Elza da Silva (a única pessoa que participou de seu enterro), Sandro não era capaz de matar ninguém, mas de acordo com a Polícia Militar do Rio, o assaltante do ônibus 174 tinha um comportamento nervoso e agressivo. Durante o trajeto até a delegacia ele quebrou o braço de um policial e mordeu outros ao tentar, supostamente, tirar uma arma deles.


A Arte Imita a Vida – Documentário “Ônibus 174”
Neste filme o diretor escolhe contar a história do seqüestro intercalada com a vida de Sandro. Para contar essa triste história o documentário traz depoimentos de familiares e amigos de Sandro, meninos de rua, policiais que participaram da ação, uma assistente social que trabalhava com as crianças da Candelária e de um ex-secretário de segurança do Rio.

A intenção do diretor não é, de forma alguma, defender o criminoso. Mas alertar a sociedade para os inúmeros “Sandros” que estão sendo criados. Ao traçar o perfil de Sandro, mostrando sua história desde o início, o diretor mostra que aquela tragédia era inevitável. Padilha puxa a sociedade para a reflexão sobre continuar a "fabricar" e excluir tantos meninos e meninas de rua, dando origem a outros “Sandros”.

Em nenhum momento o assaltante é colocado como pura e exclusivamente vítima da sociedade, são mostrados os defeitos, os crimes que cometeu, seu envolvimento com drogas etc. Pouco se sabe da vida de cada um dos personagens que participaram daquele fatídico dia. Sandro Barbosa do Nascimento, o seqüestrador, teve seus curtos 21 anos de vida marcados por tragédias e descasos. Foi um dos sobreviventes da chacina da Candelária, episódio cruel que aconteceu no Rio de Janeiro, onde oito meninos de rua foram mortos por policiais militares, lembra-se? Aos 21 anos, Sandro reaparece na mídia como o seqüestrador do ônibus 174. Seu trágico destino dispensou julgamento, depois de capturado pela polícia foi morto por asfixia, já imobilizado, dentro do camburão.
O documentário é uma crítica a “cegueira” opcional da sociedade em relação aos problemas sociais que afligem as crianças brasileiras e a falta de preparo da polícia em situações de emergência.


Duas Caras

Aguinaldo Silva, autor da novela global “Duas Caras”, também se inspirou em diversos acontecimentos reais para compor cenas marcantes da reta final da novela das oito.
O ônibus 174 foi uma das inspirações do autor, que levou para trama a trágica história ocorrida em 2000. O caso ilustrou a seqüência final da morte do personagem Ronildo, vivido por Rodrigo Hilbert.
Depois de muito planejar o assalto à associação de moradores da Portelinha, Ronildo rouba o dinheiro de Juvenal Antena (Antônio Fagundes), líder da comunidade. O assalto é descoberto rapidamente e em uma tentativa desesperada Ronildo seqüestra um ônibus e mantém todos os passageiros reféns. O personagem morre após uma briga entre ele e o líder da Portelinha.
Uma crítica clara a atual situação em que a nossa sociedade se encontra, repleta de inversões de valores.


A Sociedade e a Arte

A história pode ser contada diversas vezes, e em todas elas, vai haver uma versão diferente. No entanto a realidade é apenas uma, a sociedade brasileira vive uma crise de valores sobre o que é certo é o que é errado. Os papéis de reguladores da ordem estão divididos nas mãos do Estado e dos bandidos, os únicos que sofrem com o descaso das autoridades e da sociedade, são aqueles que chamamos de marginais.
Marginais sim, não no sentido pejorativo, mas por viverem à margem da uma sociedade que se exclui da culpa e se choca ao perceber que é tão culpada de um assassinato quanto quem puxou o gatilho. O ditado afirma que “A vida imita a arte”, porém nem sempre a arte chega primeiro, e se vê na obrigação de, da sua maneira, relatar acontecimentos que merecem um pouco mais de atenção, explicação e quem sabe um incentivo para a busca de uma solução.
Curiosidades
Após alegações de que a morte de Sandro foi ocasional, os policiais responsáveis foram levados a julgamento por homicídio e declarados inocentes.
Em novembro de 2001, a linha 174 Central – Gávea mudou o número para 158.
Geisa Firmo Gonçalves foi enterrada em Fortaleza – CE, no cemitério do Bom Jardim. Seu enterro foi acompanhado por mais de 3000 pessoas.

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